Nestes tempos de crise económica e quase-ruína financeira de Portugal, é sempre bom conhecer factos históricos que nos poderão ajudar a entender melhor factos cujas consequências têm causas muito profundas e que estão enterradas na memória pelo peso implacável do tempo.
Em 1852, era este o Estado do Pais:
-218 Km de estrada
-nenhuma via férrea
-nenhuma linha telegráfica
-uma quebra de 10% na produção agricola provocava a duplicação dos preços, devido á ausência de comunicações
-Divida Publica imensa, provocada por pelo governo de Costa Cabral
-revoluções, pilhagens e guerras…etc
Só em 8 anos a Regeneração consegue inaugurar o 1º troço de comboio (que 50 anos depois serão de 2 800 Km, sendo ainda hoje uma linha actual)
-Inicio das comunicações telegráficas nacionais e ligações internacionais
-Inicio da construção maciça de estradas (só em Monarquia Constitucional são construidos 10.000 Km de estradas)
-Conversão e redução de toda a divida interna e externa, ao juro de 3%, sem deduções
-Internacionalização e abertura da economia Nacional
-Reforma do Arsenal da Marinha
-Nomeação da comissão das pautas alfandegárias
-Reorganização da Alfandega Municipal de Lisboa
-Passagem dos correios e postas do Reino para o ministério das Obras Publicas (estruturação dos correios para os moldes actuais)
-Auxilio e protecção á Escola politécnica
-Criação do observatório da Ajuda
-Establecimento das cadeiras de Economia Politica e direito Comercial ,Fisica,Quimica e História Natural, na Academia do Porto
-Fundação do Curso Superior de Letras
-Inicio da mecanização da agricultura
-Primeiras feiras agricolas e industriais
-..etc
A regeneração foi na verdade um “boom” económico que poderia ter adiantado os actuais niveis de vida em 30 anos, não tivesse sido a revolução de 1910 as crises económicas de 1890 e a implantação da republica no Brasil…
A linha azul mostra a evolução do rendimento “per capita” durante a monarquia, no periodo de 1855 até 1910.
A linha vermelha mostra a evolução do nivel de rendimento durante a I republica
A linha vermelha fina mostra a “tendência” (trend) que o ciclo económico poderia ter levado se não tivesse havido aqueles 16 anos ,entre 1910 e 1926
1- O 1910
Em 1855 o PIB era de 248 000 contos de reis, para uma população de 3901 000 individuos, tal significava um rendimento per capita de 82 escudos (escudos de 1914).Rendimento esse que viria a subir até 176 escudos (escudos de 1914), ou seja 114 % em 33 anos.A manter-se esse ritmo , o rendimento real per capita em 1921 teria sido de 189 escudos e não 90 como efectivamente foi (un hiato de 110%), sendo que era um valor inferior ao auferido em 1799
Não podemos dizer que o nivel de vida em 1799 fosse melhor do que em 1921, embora os dados indiquem nesse caminho, mas podemo-nos questionar onde foram parar os 110% de rendimento per capita, ou mesmo como foi possivel a um pais com um PIB real de um mihão de escudos em 1910 regredir para metade desse valor em 11 anos (555 000 contos em 1921).Para um Pais com 6 milhões de almas e um rendimento per capita de 90 escudos…pode-se dizer que em 11 anos (1910-1921) o Pais efectivamente regrediu mais de 60 anos, anulando todo o desenvolvimento que a regeneração havia feito, condenando o Pais a um eterno atraso de uma ou 3 decadas
2- A REPUBLICA DO BRASIL E AS CRISES DA DECADA DE 90
Que ocorreu então entre 1890 e 1910 ?.A economia quase estagnou, mesmo apesar de em 1910 ter atingido o maior valor para o Rendimento Interno até então conseguido (1 007 000 contos a preços constantes de 1914).Mesmo apesar da enorme divida que todos todos os anos crescia 11 000 contos, o pais crescia…não havia uma tendência no sentido da descida, como se veio a verificar desde 1910 até 1921
Portugal para cumprir os programas de fomento necessários tinha obrigatóriamente de recorrer ao crédito internacional, e para isso era obrigatória a entreda no sistema do “livre câmbio”, atravéz do sistema “padrão ouro” (cada moeda valia efectivamente uma quantidade fixa de ouro)
Esta abertura ao exterior era um enorme risco para uma economia ainda agricola e a prova-lo estão as pautas aduaneiras portuguesas, que eram á altura as mais elevadas da europa (o Estado cobrava em média 30% sobre as importações) o que no fundo reflecte o caractér proteccionista
sobre a industria nacional.
Mas nao se pode dizer que Portugal fosse efectivamente uma economia aberta, pois o peso das importações e exportações nunca ultrapassou os 7% (Em Inglaterra a média era de aprox. 20%).Só com advento da Républica é que esta fasquia foi ultrapassada tendo a Balança comercial registrado desvios de 21 pontos percentuais com as importações a representarem 28% do PIB (1921) face aos 7% das export.
A real abertura da economia não advinha da balança comercial mas da exportação de trabalhadores (emigração-modelo idêntico ao Italiano, com as mesmas consequências) Portugal exportava os trabalhadores, que enviavam remessas sob a forma de letras de câmbio sobre a praça de Londres (porque o Brasil tinha mais relações económicas com Inglaterra) Permitindo aos nacionais e ao Estado ter crédito para contrair emprêstimos
Então tudo o que se passava no Brasil tinha reflexos imediatos no valor da moeda face á libra.Isto foi verdade na guerra do Paraguai (1868-71) e particularmente grave na implantação da republica do Brasil (1890-1907)
A desvalorização da moeda face ao exterior provocava o imediato aumento da Divida Publica e de facto o crescente endividamento que se verifica desde 1890 não advém de um endividamento real ,mas do menor valor da moeda. Na altura todos queriam ver culpados no Fontes ou numa conspiração inglesa. Foi num estudo de 1915 ( “O Ágio”, Salazar) por um académico de nome Oliveira Salazar, que se provou o que já era sugerido por alguns…Foi o câmbio da moeda brasileira que detrminou o câmbio da moeda nacional até 1907
Tudo estava bem se tudo estivesse bem no Brasil (e D. Carlos sabia-o), mas desde Novembro de 1889, com o fim da monarquia no Brasil que este pais descambou num carnaval de golpes de Estado, sendo que em 1891 já as praças internacionais previam a bancarrota, com o cambio da moeda portuguesa a cair 25 % e as transferências do Brasil a passarem de 4355 contos (1888) para 800 contos em 1891, uma queda de 80%
Portanto foi uma consequência da conjuntura internacional, o que determinou a fraca performance económica (1890-1907), sendo que o PIB per capita de 1909 só seria igualado em 1928…19 anos de diferença! e a prova do fracasso da I republica
De facto a I republica foi um fracasso, não só ideológico como social. O Liberalismo assentava grande parte do seu pensamento no equilibrio do Poder pela sua divisão. Ao monarca o poder moderador contrapunha o poder executivo do governo e assembleias. Mas a implantação da Republica apenas veio vincar o acrescido gosto pelo poder que as “elites” vinham vindo a adquirir e o quanto era incomoda a presença de um poder moderador. A enorme liberdade de movimento financeiro e executivo dos sucessivos governos veio provar que a independência orçamental tinha sido subestimada e que esta era de facto mais forte do que os poderes consignados na Constituição…mas seria de facto mais eficiente?
A Republica implanta-se muito devido ao escandalo dos tabacos, que em 1926 ainda não tinha sido resolvido.
O aumento do nivél de vida foi uma mentira escabrosa….as diferenças sociais aumentaram e se em 1910 não se vivia muito bem, em 1921 nem pão havia para comer, o que diz muito da igualdade entre os homens!
A divida publica aumentou
Não se construiram quaisquer infraestruturas.
É legitimo perguntar-se para que serviu a republica ou se a monarquia era assim tão desnecessária.
Bom entre a linha azul e a vermelha a unica diferença (do gráfico) é o Rei porque o resto estava lá tudo: as estruturas, os politicos, as mentiras e omissões
…afinal a monarquia fez falta!
Sem comentários:
Enviar um comentário