O desprezo desta república em relação aos Portugueses continua a atingir proporções gigantescas, mais uma vez verificados pela passividade da CNE face ao escandaloso episódio dos cartões de eleitor. Não obstante, não faltaram líderes políticos e comentaristas caducos a destilar veneno em ataques aos mais de 50% de eleitores que decidiram abster-se nesta farsa pseudo-democrática, remetendo sempre essa decisão para um nível mais ou menos irrelevante de relativo descontentamento dos Portugueses com a campanha eleitoral e a classe política actual.
Longe de mim pretender que a abstenção de dia 23 representa com alguma legitimidade o universo monárquico do país, mas algures entre o desejo de rever a coroa estampada na bandeira nacional e o redutor «descontentamento com a classe política» encontra-se a verdadeira explicação para estes absurdos níveis de abstenção: Os Portugueses não se revêem neste regime!
Querer negar este facto é um insulto aos Portugueses. Insinuar que os mais de 5 milhões de Portugueses que se recusaram a votar, o fizeram sem saber o que implica a sua decisão, é chamar a 5 milhões de Portugueses de atrasados mentais.
A necessidade de rever a nossa democracia é imperativa, e a república não se pode apresentar como «plenamente consolidada» e muito menos «madura» enquanto for como criança e tiver medo de se submeter à legitimação popular. Através de um referendo monarquia/república? Porque não? Não implica que se não discutam também outras alternativas ao actual sistema, como por exemplo a tão discutida alteração dos poderes presidenciais.
A república foi imposta com tiros nas costas e contra a vontade dos Portugueses. Isto é um facto. Só os Portugueses podem finalmente conceder aos traidores o perdão que liberte a república dos seus fantasmas. Se as pazes forem feitas através do sim à república, assim seja: o povo é soberano! Mas até esse dia chegar Portugal continuará o seu luto. E eu, como tantos outros, de forma consciente e responsável, manterei o meu sentido de (não) voto.
Felipe de Araújo Ribeiro in Estado Sentido
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